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Opinião: Ideia sem produção não vale nada

No mundo de desenvolvimento de jogos, ideias não faltam, o que falta é gente com capacidade e/ou disposição para transformá-las em jogos.

Quando comecei a tentar entrar no mercado de desenvolvimento de jogos, há cerca de 3 anos e meio, percebi que as minhas ideias não iriam se transformar em games de verdade com facilidade. Na época, não sabia desenhar e nem programar, eu era o tal “cara das ideias”.

Ser o “cara das ideias” pode ser muito importante se você possui uma genialidade capaz de pensar em mecânicas e histórias divertidas, envolventes e inovadoras, mas, mesmo assim, não garante que você consiga colocar a sua ideia pra frente. É preciso, sim, de mão de obra que faça a sua ideia se tornar realidade: artistas, programadores, músicos, game designers, gerentes de projetos e até “marketeiros”.

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No meu caso, tentei montar equipe ao menos 3 vezes e foi frustrante. Aquele velho modelo “todos trabalham de graça e a gente divide os lucros” é bem difícil de dar certo, pois é raro encontrar pessoas tão compromissadas com uma ideia de outra pessoa a ponto de trabalhar de graça por meses e colocando-a como prioridade em sua rotina.

Para ter o meu primeiro game publicado, precisei investir tempo e dinheiro: uma mesa digitalizadora, dois cursos com um artista de um grande estúdio brasileiro, graduação em análise de sistemas e meses de videoaulas de produção em Unity. A partir daí, comecei, aos poucos, a transformar minhas ideias em pequenos jogos.

O que quero dizer com isso é: sua ideia pode até ser especial, mas NÃO SERVE DE NADA se não tiver alguém para transformá-la em um jogo de verdade. Como proceder então?

Transformando sua ideia em jogos de verdade

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Bem, eu vejo três maneiras principais de tirar a ideia do papel e transformá-la em um produto:

Sociedade: Pode funcionar, mas essa é a maneira mais difícil, na minha opinião. Embora seja extremamente fácil arranjar sócios para desenvolver um jogo (basta postar em qualquer grupo de facebook), as sociedades raramente conseguem manter um bom ritmo de trabalho ordenado para terminar um projeto com uma qualidade mínima. O grande problema é a falta de recursos. Poucos são os sócios que darão prioridade em suas vidas para desenvolver uma ideia de outra pessoa, além disso, manter a motivação de sócios por meses (ou até anos) sem receber um único dólar é uma tarefa praticamente impossível. Sem contar que, em uma sociedade, provavelmente sua ideia será alterada e/ou você terá que trabalhar com a ideia dos outros envolvidos, pois todos vocês possuem o mesmo grau hierárquico.

Faça você mesmo: Acredito que qualquer pessoa, com muito treino e dedicação, consiga aprender o básico de pixelart e de programação para entregar um produto minimamente comercializável. Na verdade, você pode se surpreender com a sua evolução e encontrar um artista ou programador que estava dormindo em você! Desta forma, você poderá publicar alguns jogos, nem que sejam mais simples do que você gostaria, mas só de ter uns 3 ou 4 jogos publicados no Steam, será mais mais fácil de encontrar sócios que sejam realmente sérios, pois as pessoas verão que você não é só mais “um aventureiro querendo fazer o novo GTA 5 brasileiro”. Com a renda desses jogos simples, se não quiser sociedade, você terá um trocado para pagar profissionais para produzirem suas próximas ideias.

Invista: Esse é o jeito que mais funciona. Muitas pessoas querem abrir um negócio de jogos digitais mas poucos querem investir financeiramente para isso. Um estúdio de desenvolvimento de jogos é um negócio como qualquer outro e precisa de investimento. Venda sua bicicleta, seu Playstation, seu óculos de marca e contrate profissionais freelancers. Não pague adiantado, negocie as entregas “por módulos”: realize um pagamento a cada módulo entregue com qualidade satisfatória. Em pouco tempo você terá o serviço realizado, sem a dor de cabeça de ficar cobrando de sócios lentos ou descomprometidos com a sua ideia. Gosto muito dessa maneira, pois assim você é o chefe, as pessoas contratadas vão fazer o que você mandar, do jeito que você achar melhor.

Terminei: minha ideia virou um game, e agora?

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Agora você não tem garantia nenhuma que o seu jogo tenha retorno financeiro. É triste, mas é a realidade.

Faça um exercício de autocrítica. Veja se o seu jogo tem um mínimo de qualidade para ser comercializado, caso contrário, publique seu jogo gratuitamente em sites como Game Jolt, Kongregate ou Newgrounds.

Lembrando que qualidade mínima para ser comercializado NÃO É ter gráficos topzera “AAA”, e sim ter um mínimo de capricho, para que o comprador não fique preso em bugs ou se depare com situações bizarras que façam ele ter uma péssima experiência de jogo.

De qualquer forma, passe algumas semanas acompanhando os feedbacks do seu jogos, melhore o que puder melhorar, corrija os bugs e preste suporte aos usuários. Se o seu game não fizer o sucesso que você esperava, paciência, não desanime! Raros desenvolvedores ficaram famosos já no primeiro jogo.

Como dizem: sacode a poeira e começa de novo!

 

Concluindo

Se você é novato e/ou manja nada de programação ou arte para jogos, vá com calma! Não tente fazer um grande RPG online com mundo aberto. Não tenha pressa! Pense em algum projeto o mais simples possível e que seja bem divertido.

Lembre-se, quanto mais complicado for sua ideia, mais investimento financeiro e humano será necessário! Será que o seu projeto está dentro da sua realidade atual?

De qualquer maneira, ARREGACE AS MANGAS!!! Uma ideia é só uma ideia se não tiver ação concreta para transformá-la em realidade e NÃO VALE NADA se ficar guardada na gaveta.

Por último, lembre que “ideia não falta” e que a sua ideia só é especial para você. Quem sabe fazer jogos e possui disposição, já está ocupado desenvolvendo a sua própria ideia.